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Renata Fortes

Quem são os animais?

Todos os dias, os cães que vivem na periferia da capital da Rússia, Moscou, pegam o metrô até o centro da cidade, onde conseguem alimento mais facilmente.



Durante a era soviética, os cães não podiam permanecer nas estações de metrô. Contudo, essa realidade mudou com a queda da URSS porque as casas nos arredores de Moscou se tornaram centros comerciais e edifícios, enquanto os restaurantes e lanchonetes passaram para o centro da cidade, obrigando os cães a percorrerem um longo caminho de ida e volta todos os dias em busca de alimento.


Pesquisadores não sabem como os cães descobriram que os metrôs poderiam levá-los até o centro, e além disso os cães ainda aprenderam a trabalhar em equipe, escolhendo os vagões menos lotados e descendo na parada certa. Uma vez que cheguem ao centro de Moscou, os cães usam todos os tipos de táticas para se alimentarem. Alguns passam o dia todo deitado na frente do açougue, enquanto outros ‘batem patas’ pelas ruas. Quando chega a noitinha, eles voltam até o metrô e seguem para suas casas no subúrbio, no dia seguinte segue a rotina.


Durante séculos, as pesquisas envolvendo animais tinham como objetivo buscar algum tipo de benefício para os seres humanos, mas em 1930 um trabalho publicado sobre o comportamento das aves pelo cientista austríaco Konrad Lorenz (1903 – 1989) deu início ao estudo sistemático do comportamento animal, e, atualmente, diversas pesquisas comprovam as capacidades dos animais e as relações que estabelecem intra e inter espécies.


As descobertas são surpreendentes e colocam os animais em outra perspectiva, revelando a injustiça de ideias como: “animais são seres irracionais”, “animais agem apenas por instinto” e “animais são seres inferiores”. Na realidade, estas ideias apenas serviram para a desconstrução dos animais enquanto seres sencientes (capacidade de sentir emoções e sensações), e para tornar “confortável” aos seres humanos usá-los de todas as formas.


De fato, o uso dos animais teve um grande papel na construção da sociedade humana, contudo a nossa evolução tecnocientífica tornou este uso desnecessário. Por exemplo, não necessitamos criar animais ou caçá-los para retirar as suas peles e fazer roupas, já produzimos peles sintéticas, não necessitamos de cavalos para puxar carroças no asfalto quente respirando gás carbônico dos carros temos veículos que podem substituí-los, assim como não necessitamos criar e abater bilhões de animais por ano para nos alimentar, descobrimos alimentos mais saudáveis, não precisamos usar animais para nos divertir!


Pensar desta forma significa em termos práticos um grande avanço ético pela libertação dos animais do sofrimento que impomos pelo uso de seus corpos, por isso o surgimento dos direitos animais e da proteção legal desses seres, justamente, pelo reconhecimento de que cada animal possui as capacidades necessárias para se desenvolver, para interagir com o meio e seguir na sua caminhada evolutiva, tal como nós seres humanos.


Hoje podemos responder com toda certeza que os animais são sujeitos de uma vida, o que significa reconhecer que possuem interesse em viver, e isso deve fazer a diferença em nossas opções diárias quando o que está em jogo é o uso de uma vida animal.

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